Apesar de já se aproximar o final do dia, e ainda sem ter muita noção que pelas 18 horas já é noite, apanhamos um táxi até à Achada Grande Frente.
Achada Grande Frente é uma das zonas mais pobres de Praia, o que nos atraiu ali, além de presenciar a vida dos locais, foi ver arte urbana que existe neste bairro. Vários artistas de arte urbana, o Português Vhils incluído, têm deixado a sua marca artística ali, com a intenção de puxar o bairro à atenção de quem visita Praia.
Este bairro de habitação não tem referências turísticas, a não ser a arte urbana.
Provavelmente fomos o primeiro caso de sucesso do projeto uma vez que os locais nos olhavam com um ar de estranheza mas ao mesmo tempo com a simpatia sempre presente nos cabo-verdianos.
A visita a este bairro permitiu-nos uma primeira visão da vida quotidiana dos cabo-verdianos.
Observamos as pessoas a viver a sua vida a frente das suas casas, as crianças numerosas a brincarem na rua e as mães a assar o frango ou o peixe nos grelhadores a porta de casa. Já se fazia tarde e fomos apanhados desprevenidos pela rápida descida do sol por volta das 18h da tarde.
Novamente uma mistura, desta vez entre casas em construção ou em vias de construção mas com fachadas de cores vivas ou com pinturas a ocupar a fachada toda, na maioria casas de família, muitas vezes sequer sem janelas, mas sempre com muito movimento dos que ali vivem.
Dada a hora a que lá chegamos haviam muitas pessoas a regressar às suas casas depois do trabalho ou escola, pessoas a cozinhar o jantar na porta de casa em grelhadores improvisados, muitas deles venderiam também parte da comida confeccionada aos que passam por ali.
Pelos olhares e abordagens rapidamente percebemos que, mais do que no Sucupira, pessoas estranhas ao bairro não costumam passar ali.
Tivemos crianças a apontar para nós, e a gritar em plenos pulmões coisas como: ‘’ TURISTASSS!!!’’ ou ‘’Olha dois brancos!!’’
Andamos perdidos pela Achada Grande, procuramos e encontramos imensa arte urbana que valeu a pena a aventura de ir até ali, e conversamos com imensas crianças que nos encaravam com imensa curiosidade.
Alguns adultos por estranham a nossa presença fitavam-nos, causando algum constrangimento, mas nós mantivemos a nossa prática de cumprimentar todos com quem os nossos olhares se cruzavam.
No cimo do prédio onde vive, a Vânia, deu-nos as boas vindas (ou terá sido um alerta?) gritando ‘’Turistas’’ em plenos pulmões, já na partida gritou um não menos simpático ‘’ Tchau Mónica’’.
Escureceu demasiado rápido, vimos imensa arte urbana, tirei imensas fotos (mas perdi o cartão de memória #SHAME), e quando ficou noite cerrada (ali não há iluminação nas ruas), bateu aquela consciência: ‘’ Como voltamos a Praia?’’
Não vimos nenhum táxi que nos pudesse fazer regressar ao centro da cidade. E apesar de haver alguma iluminação e da existência de pessoas na rua, o caminho de regresso a pé seria longo passando por um conjunto de estradas vazias e mal iluminadas, não estávamos totalmente confortáveis.
Felizmente, no meio do escuro, e depois de 20 minutos a andar sem rumo, sem que se visse qualquer táxi ou transporte público, já com a sensação de que estávamos perdidos e que a qualquer momento algo poderia correr mal: vimos duas pessoas paradas na estrada, e que para nossa satisfação, nos confirmaram que passaria ali o último autocarro do dia para a cidade. Estávamos safos, por apenas 82 escudos, e alguns olhares indiscretos, ficamos a porta do nosso alojamento e com uma história para contar.